O Anúncio da morte de Deus e o retorno da religião

uma leitura de Nietzsche em Vattimo

Autores

  • Ludênia Maria Adriano Rodrigues Universidade Estadual Vale do Acaraú

Palavras-chave:

Filosofia. Morte de Deus. Retorno do Religioso. Modernidade. Pós-moderno.

Resumo

O presente trabalho tem como objetivo apresentar os resultados obtidos a partir da pesquisa realizada acerca do fenômeno do retorno do religioso, a qual foi delimitada por uma leitura hermenêutica da questão da Morte de Deus, anunciada por Nietzsche em sua obra A Gaia Ciência (1882, §125), tomando como referencial a leitura feita por Gianni Vattimo, que se encontra desenvolvida em sua obra Depois da Cristandade (2004). Como parte dessa delimitação, foram levantadas questões ao longo dos encontros que direcionaram a pesquisa e estabeleceram uma organização das ideias em torno da temática central. As questões foram as seguintes: Como se dá a relação do anúncio nietzschiano da morte de Deus e a ideia de fundamento último? Nietzsche, ao anunciar a morte de Deus, pressupôs uma afirmação do ateísmo? Como pensar o anúncio da morte de Deus e seus impactos para a condição da experiência religiosa? No percurso, alcançamos o entendimento de que a morte de Deus não se trata de uma afirmação do ateísmo: essa afirmação valeria como a confirmação da existência de um princípio metafísico, isto é, afirmando a não existência de Deus reforçaria a sua existência. Pelo contrário, a morte de Deus expressa um evento capaz de transformar a existência humana no que se refere, especificamente, à diluição da noção de fundamento último, tanto no âmbito da religião como no âmbito da própria Filosofia. Desta forma, chegamos à compreensão de que, com base nessa leitura hermenêutica do anúncio, Deus foi morto no gradual rompimento entre o homem e a moral religiosa, cujos discursos tornaram-se obsoletos diante das interpretações oferecidas pelas ciências emergentes. A visão de mundo proporcionada pela fé, com isso, foi relegada a uma esfera de crença e superstição e o homem, agora apoiado pela ciência e os avanços da técnica, tornou-se uma espécie de (novo) absoluto. Como consequência desse antropocentrismo, pudemos constatar que, ao assumir a responsabilidade sobre as questões que permearam, como ainda permeiam, as relações no mundo, o homem enfrentou grandes contrastes entre os objetivos presentes na ideia de progresso da ciência e a realidade das aplicações científicas, que possibilitaram, na posteridade, o retorno da religião como forma de sanar a desorientação causada por estes contrastes. E tal como testemunhamos no cenário atual, este retorno da religião apresenta-se não mais como se dava na medievalidade, na qual a religião orientava-se por um sentido único. Nos nossos dias, a experiência religiosa é caracteristicamente marcada por um pluralismo nas formas de expressão da sacralidade. Segundo Vattimo, o Deus que se apresenta nas interpretações bíblicas da pós-modernidade é o “Deus do livro”, que não existe senão na palavra de salvação interpretada pelos fiéis segundo suas vivências, e, junto a estas interpretações, percebe-se, agora, uma igreja realizada na comunidade assumindo o lugar que antes constituía-se uma autoridade dogmática.

Downloads

Publicado

2023-04-10

Edição

Seção

Anais da Semana de Filosofia da UVA - Resumos